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quarta-feira, 30 de abril de 2008

Poema de António Gedeão

N.Santos, Santa Cruz, Abril/08

Esta é a escolha do Andrei Dobrescu para o dia 7 de Maio


Poema do afinal
No mesmo instante em que eu, aqui e agora,
Limpo o suor e fujo ao Sol ardente,
Outros, outros como eu, além e agora,
Estremecem de frio e em roupas se agasalham.
Enquanto o Sol assoma, aqui, no horizonte,
E as aves cantam e as flores em cores se exaltam,
Além, no mesmo instante, o mesmo Sol se esconde,
As aves emudecem e as flores cerram as pétalas.
Enquanto eu me levanto e aqui começo o dia,
Outros, no mesmo instante, exactamente o acabam.
Eu trabalho, eles dormem; eu durmo, eles trabalham.
Sempre no mesmo instante.
Aqui é Primavera. Além é Verão.
Mais além é Outono. Além, Inverno.
E nos relógios igualmente certos,
Aqui e agora,
O meu marca meio-dia e o de além meia-noite.
Olho o céu e contemplo as estrelas que fulgem.
Busco as constelações, balbucio os seus nomes.
Nasci a olhá-las, conheço-as uma a uma.
São sempre as mesmas, aqui, agora e sempre.
Mas além, mais além, o céu é outro,
Outras são as estrelas, reunidas
Noutras constelações.
Eu nunca vi as deles;
Eles,
Nunca viram as minhas.
A Natureza separa-nos.
E as naturezas.
A cor da pele, a altura, a envergadura,
As mãos, os pés, as bocas, os narizes,
A maneira de olhar, o modo de sorrir,
Os tiques, as manias, as línguas, as certezas.
Tudo.
Afinal
Que haverá de comum entre nós?
Um ponto, no infinito.


António Gedeão
Poemas EscolhidosLisboa, Sá da Costa, 2001

Mais colaborações...

A Ana Luiza, o Andrei Dobrescu e o Vadim Orghian também vão participar.

Vão ler Drummond de Andrade e António Gedeão.
















Lembramos que os poetas e os poemas foram
escolhidos pelos próprios alunos.

O escolhido pelo Vadim é este:

Arma Secreta

Tenho uma arma secreta

ao serviço das nações.
Não tem carga nem espoleta
mas dispara em linha recta
mais longe que os foguetões.

Não é Júpiter, nem Thor,
nem Snark ou outros que tais.
É coisa muito melhor
que todo o vasto teor
dos Cabos Canaverais.

A potência destinada
às rotações da turbina
não vem da nafta queimada,
nem é de água oxigenada
nem de ergóis de furalina.

Erecta, na noite erguida,
em alerta permanente,
espera o sinal da partida.
Podia chamar-se VIDA.
Chama-se AMOR, simplesmente.

António Gedeão



O poema escolhido pela Ana Luiza:

Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado,
devias precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 29 de abril de 2008

"Trova do vento que passa"

Olissia Olegnova

O meu poema é "Trova do vento que passa", de Manuel Alegre

«Trova do Vento que Passa» (vê o vídeo da canção)

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio - é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria prega
danos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucifica
danos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre

Outros poetas portugueses, da segunda metade do século, escreveram sobre o tema da Liberdade. Vê estes "sites": http://www.bib-camilo-castelo-branco.rcts.pt/librdd5.html http://www.nescritas.nletras.com/poetasacantar/

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Ensaios a 23 de Abril

Somos a Andreia, o Carlos e a Olissia, nos ensaios na sala de estudo

Chamo-me Andreia Vaz, nasci em Lisboa no dia 01 de Agosto de 1993; moro na Bordinheira no concelho de Torres Vedras.


Chamo-me Olissia Olegovna, nasci na Rússia numa cidade maravilhosa: Ivanovo. Tenho 17 aninhos. A partir de 2007 passei a morar em Portugal, em Torres Vedras. Frequento o 10º ano.


Chamo-me Carlos Carreira, nasci em Torres Vedras a 15 de Novembro de 1993,moro em Miragaia no concelho de Lourinhã, mas estudo na Escola Secundária Henriques Nogueira em Torres Vedras, no 9º ano.

23 de Abril de 2008 08:12

"Liberdade"

Leitor: Adrian Caraus

Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem o mal,
sem edição original.
E a brisa,essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto
É Jesus Cristo
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca.

Fernando Pessoa(Lisboa, 1888-1935)

Biografia de Adrian Caraus Valeriu
Nasci em 1990, no dia 30 de Setembro, em Chisinau, na Moldávia.Estou em Portugal há cinco anos, moro em Torres Vedras e frequento a turma D do 11º ano.

23 de Abril de 2008 15:51

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Meu amor, meu amor














Andreia Vaz e João Carreira escolheram Florbela espanca e Ary dos Santos, respectivamente.

Meu amor meu amor

Meu amor, meu amor
meu corpo em movimento
minha voz à procura
do seu próprio lamento.
Meu limão de amargura meu punhal a escrever
nós parámos o tempo não sabemos morrer
e nascemos nascemos
do nosso entristecer.
Meu amor meu amor
meu nó e sofrimento
minha mó de ternura
minha nau de tormento
este mar não tem cura este céu não tem ar
nós parámos o vento não sabemos nadar
e morremos morremos
devagar devagar.


in SANTOS, Ary dos, As Palavras das Cantigas (organização, coordenação e notas de Ruben de Carvalho), Lisboa, Edições Avante, 1995.

"Noite", de Agostinho Neto



"Noite"

Eu vivo
nos bairros escuros do mundo
sem luz nem vida.

Vou pelas ruas
às apalpadelas
encostado aos meus informes sonhos
tropeçando na escravidão
ao meu desejo de ser.

São bairros de escravos
mundos de miséria
bairros escuros.

Onde as vontades se diluíram
e os homens se confundiram
com as coisas.

Ando aos trambolhões
pelas ruas sem luz
desconhecidas
pejadas de mística e terror
de braço dado com fantasmas.

Também a noite é escura.

Agostinho Neto



Leitor:

Sou o José Marcos, tenho 15 anos e nasci em Angola (Luanda) onde vivi e estudei até ao 8ª ano.Vivi ainda no Brasil durante cerca de um ano. Estou em Portugal a aproximadamente dois anos.

Biografia

Eu chamo-me Alexandru Levandovschi , nasci em 14.10.1991, na Moldávia.
Estou em Portugal há 8 meses. Moro em Torres Vedras com os meus pais e o meu irmão. Eu sou
aluno do 10º E.


23 de Abril de 2008 14:21

(Esta imagem não é do ensaio; é da 1ª semana na nossa escola)

POEMA

Horror Vacui

O lençol do mar não chegou até à terra.
As crianças pararam de brincar.
Sou uma porta entreaberta
Uma árvore voadora
Um pensamento sem palavras
Uma cadeira a que falta a mesa.
Apanha,apanha os meus estilhaços!
Lava-me com o teu corpo.

Erdal Alova

Biografia

Erdal Alova nasceu em 1952 em Ancara, na Turquia.Frequentou durante dois anos a Universidade Técnica.Publicou poesia dispersa a partir de 1973 ,tendo reunido o seu primeiro livro em 1980.Publicou mais dois livros de poesia em 1989 e 1995, recebendo, por este último, o prémio consagração "Cemal Sureja", 1995.É também tradutor de Lorca , Kavafi , Nerval , Herbert , e de muitos outros.

Alexandru Levandovschi 10 E
23 de Abril de 2008 14:10

O meu nome é Andriy


O meu nome é Andriy Volotovskyy. Tenho 12 anos,vivo em Portugal há 1 ano e 4 meses,mas nasci na Ucrânia.Gosto de viver em Portugal.

Vou ler o poema "Boas Noites",de João de Deus.

23 de Abril de 2008 16:25

Poema "Boas Noites"

"Boas noites"

Estava uma lavadeira,
a lavar numa ribeira,
quando chega um caçador:
-Boas tardes, lavadeira!
-Boas tardes, caçador!
-Sumiu-se-me a perdigueira,
ali naquela ladeira,
não me fazeis o favor
de me dizer se a brejeira
passou aqui a ribeira?
-Olhe que dessa maneira
até um dia, senhor,
perdereis a caçadeira
que ainda é perda maior!
-Que me importa, lavadeira!
Aqui na minha algibeira
trago dobrado valor...
Assim eu fora senhor
de levar a vida inteira
só a ver o meu amor
lavar roupa na ribeira!...
-Talvez que fosse melhor
ver coser a costureira
que vir de ladeira em ladeira
apanhar esta canseira
e tudo só por amor
de ver uma lavadeira
lavar roupa na ribeira...
É escusado, senhor!

-Boas noites, lavadeira!
-Boas noites, caçador!

João de Deus, "Campo de Flores"


Andriy V., 7º B
23 de Abril de 2008 08:27

Donzela...


Biografias dos alunos

O meu nome é Mariya Abramova, vivo em Portugal desde Fevereiro de 2002, mas nasci na Ucrânia em 1995. Gosto de estar em Portugal e gostaria de ficar aqui.

O meu nome é Miguel Costa, sou português e vivo em Torres Vedras, onde nasci, em 1995.

Chamo-me Andreia, sou portuguesa, vivo em Torres Vedras, onde nasci há 12 anos, quase 13.
Chamo-me Luis, tenho 12 anos, sou português e vivo em Torres Vedras, onde nasci.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Programa do dia 8 de Maio


Há novidades quanto ao dia e ao programa. Vê os cartazes na Biblioteca e nos átrios!


Leituras em Vários Sotaques

- muitos modos de ouvir e falar

a Língua Portuguesa -

Vão participar:
  • 2 músicos (violoncelistas) búlgaros
Guenoveva Dimitrova

Gulorki Dimitrov


  • 15 leitores de poesia, todos da nossa escola, do 7º ao 12º ano. Vê lá se os conheces:
Maria Abramova
Andriy Volotovsky
Andrea Bacila
Tânia Neves
Alissia Olegovna
Adrian Valeriu
Ainne Oliveira
Vadim Orghian
Carlos Carreira
José Marcos d'Eça
Ana Luísa Antunes
Alexandru Levantovshki
Carolina Henriques
Andrei Dobrescu

(estão pela ordem de entrada "em cena")


Vão todos ler/falar em Português ou Língua Gestual Portuguesa, mas as suas línguas de origem são as seguintes:

Alemão e Português
Búlgaro
Língua Gestual Portuguesa
Moldavo/Romeno
Português:
de Angola
do Brasil
de Portugal (europeu)
Romeno
Russo
Ucraniano


Brevemente daremos mais notícias.
Entretanto, podes consultar o Plano Nacional de Leitura